Inquérito do Real Class será entregue até sexta




Inquérito do Real Class será entregue até sexta (Foto: Celso Rodrigues)

Cerca de quatro meses após o desabamento do edifício Real Class, da construtora Real Engenharia, que levou 34 andares ao chão no dia 29 de janeiro deste ano, na Travessa 3 de maio, o inquérito que apontará culpados está previsto para ser finalizado ainda esta semana. A tragédia teve um saldo de três vítimas fatais, além de feridos, destruição de casas e carros e centenas de moradores desabrigados.
O delegado Rogério Moraes, da Divisão de Investigações e Operações Especiais (Dioe), responsável pelo caso desde o início das investigações, apresenta como principal causa do desmoronamento um erro de cálculo em dois dos principais pilares de sustentação da obra, tendo como principal fonte de análise o laudo do Instituto de Criminalística (IC), do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves.
Segundo o laudo, não foi simplesmente o uso da bitola (estrutura de amarração em ferro) de 4.2mm, menor que a bitola de 5.0mm, exigida pela norma de segurança, que originou do problema, mas sim a utilização de estribos com seção menor que o previsto para o cálculo de um prédio com aquela dimensão. “Por conta da utilização equivocada dessas seções houve, inicialmente, a movimentação transversal dos dois pilares principais da obra, o P15 e o P16, que após se movimentarem sofreram colapso e se romperam”, detalha o perito criminal Dorival Pinheiro, do setor de Engenharia Legal do IC.
Para a perícia, o desabamento foi ocasionado por dois fatores principais. Primeiro: o início da tragédia ocorreu devido à movimentação dos pilares P15 e P16, provocada pela deficiência de estribos que serviriam para combater a flexão transversal. Segundo: a movimentação dos pilares P15 e P16 desestabilizaram o restante da estrutura e provocaram o colapso total do prédio. Para a perícia criminal, as deficiências de estribos nos pilares P15 e P16 ficaram claramente caracterizadas.
Com base nos indícios comprovados com o laudo do Centro de Perícias, o delegado Rogério Moraes já ouviu os principais envolvidos na construção do edifício Real Class. No dia 4 de maio o engenheiro responsável pelo projeto, Raimundo Lobato, foi indiciado por homicídio culposo e lesão corporal culposa, quando prestava esclarecimentos na Dioe. O empresário Carlos Lima Paes, dono da Real Engenharia, e Carlos Lima Paes Júnior, seu filho e engenheiro residente da obra, foram interrogados no dia 12 de maio, mas ainda não foram indiciados, o que pode acontecer com a conclusão das investigações. O delegado promete apresentar o relatório final do inquérito até a próxima sexta-feira, 20, quando se dará desfecho ao caso. Se forem considerados culpados pelo sinistro, os empresários também serão indiciados por homicídio culposo e poderão receber uma pena de três anos de prisão, com base no artigo 121 do Código Penal Brasileiro.
Entenda como foi feita a perícia do desabamento
1- A perícia do desabamento do edifício Real Class foi feita por uma equipe de seis peritos criminais da área de Engenharia legal do Instituto de Criminalística, do CPC Renato Chaves. São todos formados em engenharia civil e com especialização na área.
2- No dia do desabamento, 29 de janeiro, sábado, meia hora após a tragédia, os peritos criminais chegaram ao local e após observação do deslocamento da massa de escombros partiram para várias hipóteses, tais como erro no projeto e/ou execução das fundações, erro no projeto e/ou execução da estrutura e a partir daí definiram a estratégia de trabalho.
3- Primeiramente, foi definido que até o momento do resgate da última vítima, o trabalho na área ficaria a cargo dos Bombeiros e Defesa Civil, logo após o local ficaria sob a responsabilidade do CPC. Durante este período, a retirada dos escombros foi fiscalizada pelos peritos, os quais observaram a disposição das peças arruinadas, os locais que apresentavam as peças mais íntegras, sendo todos esses detalhes devidamente registrados por meio de fotografia.
4- No decorrer dos trabalhos, foram realizadas aproximadamente 20 perícias de danos em casas e em cinco prédios residenciais localizados no entorno do sinistro. Com a retirada da última vítima, o CPC Renato Chaves assumiu os trabalhos, que seguiram um cronograma já elaborado, com base nos serviços a serem realizados.
5- A etapa mais demorada foi a retirada dos escombros para que os peritos verificassem a conformação dos pilares restantes, bem como a integridade da laje do subsolo. Com as informações coletadas dos projetos os peritos saberiam identificar quais blocos de fundação estavam naquele nível e caso a laje apresentasse recalque ou qualquer outra patologia, isto indicaria problemas na fundação. Com relação aos pilares, a conformação assumida por eles seria fundamental para definir a dinâmica do evento.
6- A equipe de peritos se dividiu entre trabalho no campo, local de crime, e no escritório, analisando os documentos e projetos apreendidos na sede da empresa Real Engenharia, já na segunda-feira após o desabamento. A troca de informação entre o trabalho no campo e no escritório foi fundamental para definir ou redefinir o cronograma de atuação. No início, a equipe trabalhava com uma perspectiva de tempo em torno de seis meses, no entanto, entre o início, dia do desabamento, e a finalização do laudo a equipe precisou de apenas 72 dias.
7- Durante este período foram coletadas porções de pilares e vigas, corpos de prova,  que posteriormente foram encaminhadas ao laboratório para análise da resistência do concreto e do aço. Após a limpeza da laje do subsolo, foi feito o nivelamento topográfico da área, para verificar se ela apresentava problemas que indicassem rompimento das fundações. Ao final, tanto os testes de laboratório quanto o levantamento topográfico deram respostas satisfatórias. Entretanto, como durante as análises foi observado que os pilares P15 e P16 (fosso do elevador) romperam e que a laje do entorno encontrava-se bastante danificada, a equipe resolveu verificar os blocos de fundação desses pilares, mas nada de anormal foi identificado.
8- Finalizados os trabalhos no local a equipe se dedicou à elaboração do laudo, analisando e compilando todas as informações coletadas, procedendo cálculos verificadores em pontos críticos, observados no dimensionamento da estrutura, consultando normas, selecionando ilustrações fotográficas e documentos a serem anexados. (Agência Pará)

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